domingo, 18 de novembro de 2012

Dias Dificeis ou um Amigo Especial




Dr. Miguel Peres Alves
                    
1 de Julho de 1940 - 18 de Novembro de 2008 
 
Corria o dia 13 de Junho de 1976 quando o conheci. O local e o momento não podia ser pior. Instituto Português de Oncologia em Lisboa. Lá fora ouviam-se os foguetes, sinais de festas populares. Ali dentro havia silêncio. Um silêncio que cheirava a morte. Olhei lá para fora através dos vidros da janela e as lágrimas correram-me pela cara. Tinha medo. Subitamente alguém me pôs a mão no ombro e me perguntou o que andava a ler. O livro estava abandonado em cima da cama. "A Mulher que Deus me Deu", de Hall Caine, respondi num sussurro procurando esconder as lágrimas.
Isso não vai ser nada,vai sair daqui bem. Tenho uns alunos que gostava que a observassem, pode ser?
E foi assim que tudo começou. Aos poucos um médico transformou-se num grande Amigo. Realmente ele tinha razão, não era nada mas teve uma paciência infinita para ouvir as minhas dúvidas, os meus receios e ajudar-me com todos os problemas que surgiram com os meus familiares mais queridos e os Amigos.
Andava há muito tempo para o visitar. Queria saber como ele estava, como estava a Ana, contar-lhe que o meu filho se tornara enfermeiro. Levei demasiado tempo, pensando sempre que ia importunar quem tinha tanta gente para socorrer. Partiu inesperadamente. Confesso que chorei. Perdi um Amigo. Não devemos nunca deixar para amanhã o que queremos fazer hoje. Eu já devia saber isso. 
 
Hoje lembrei-me que faz anos que partiu e da falta que ainda me faz...
Como ele ficaria feliz ao saber que a Ana já lhe deu um neto e uma neta...
Verdade é que hoje eu olhei o Céu procurando a estrela em que se transformou e pareceu-me mais brilhante. 

Mandei-lhe um beijo, acho que já lá chegou!

domingo, 14 de outubro de 2012

Política ou politiquices… Bom Senso ou falta dele…



Decididamente, na minha opinião, está tudo errado nisto que nos está a acontecer! 

Esclareço desde já que eu tenho como habilitações literárias apenas aquilo que hoje equivale ao 9º ano, o que eu acho uma injustiça porque isso me faz sentir quase analfabeta e não corresponde a tudo aquilo que eu estudei.

Mas também aviso desde já, que não me venham dizer que eu não percebo nada do assunto porque eu, sexagenária, vos refresco a memória! 

O Curso que eu frequentei era um Curso Técnico Profissional. Eu pertencia à classe dos remediados e não à classe alta que ia para o Liceu e depois tirava Licenciaturas ou Bacharelatos, a sério.

Sim, a sério, porque Licenciaturas que se tirem agora é num instantinho, por fax, ao domingo, à semana, indo ou não indo às aulas tudo já é possível. Com Bolonha ou sem ela estou até inclinada a pedir uma equivalência, tendo em conta tudo o que estudei e fui aprendendo ao longo da vida. Estou apenas indecisa se Economia, se Finanças, Psicologia ou antes Psiquiatria! 

E ando a pensar que ainda podia ser muito útil ao País se o meu vizinho Pedro Passos Coelho me pedisse uns conselhos. Sim, com o Gaspar eu não me entendia de certeza. Aquela lentidão na fala que agora já percebi se deve a fazer a tradução em directo daquilo que a Merkel lhe está a transmitir, ou melhor a ordenar que diga, faz-me um bocado de nervoso e eu com esta idade não me posso enervar! Ainda hei-de pedir a um Amigo meu, espião, se consegue ver onde é que ele tem o transmissor! Só por curiosidade mesmo! 

Mas vamos lá não fugir à questão da minha utilidade prestada a título gratuito. O Pedro Passos Coelho que anda sempre a fugir de um lado para o outro, naquele seu carro novinho em folha porque o do Primeiro Ministro anterior devia ter feitiço, devia arranjar um bocadinho de tempo para termos umas conversinhas…

Talvez no Páteo da Galé que agora está na moda e assim não eram preciso snipers o que sempre era uma economia.

É que ele anda muito distraído. Ele não vê que quanto mais gente despede mais paga de subsidio de desemprego (é pouco eu sei mas é), depois menos recebe de contribuições para a Segurança Social, IRS.

Entretanto as Empresas vão à falência e lá se vai o IVA o IRS, as exportações, etc. Depois mais desemprego mais revolta, menos compras, mais fome. 

Depois vai na conversa de continuar a tributar daquela maneira a classe média que já deixou de o ser porque para pagar aquilo tudo passa a classe pobre e não percebe as consequências…

Saberá ele que há pessoas que não têm comer para pôr na mesa e o Banco Alimentar e similares já começam a não ter resposta?

Ele ainda o desculpo,  ele não vê os jornais, não ouve nada, não vê televisão, não sabe que há crianças que já telefonam para a Linha SOS Criança, aquele amigo dele, o Relvas não lhe deve mesmo contar nada, não convém.

Crianças aflitas com o que vivem. Nós, meu Deus! Mas as criancinhas Pedro Passos Coelho?

Esteja descansado com as suas que essas não telefonam de certeza, nós pagamos-lhes bem!

Pagamos-lhe tanto que ainda se ri nas nossas caras! Acha que é correcto rir-se na Assembleia, juntamente os seus pares quando se tratam assuntos tão sérios? Sabe que lhe digo? Não tem perfil para Primeiro-Ministro nem os que o rodeiam tem para o que quer que seja. Mande lá o homem dos pastéis de nata para o Canadá que é lá que ele é feliz. Não me importo de ir ao Aeroporto levar-lhe dois pacotes para a viagem em low-cost! Nem pense mandá-lo de Falcon que isso é uma fortuna!

Acha correcto falar ao País como fala? Está a ser arrogante e não passa de um catraio birrento, depois não se admire que o tratem com falta de respeito.

Sabe, tem que reparar que o Povo também já não o respeita e pensar seriamente nisso! Tem mentido tanto como o seu antecessor! 

Pois já estava à espera que me viesse dizer que a culpa foi do estudante de Filosofia que está em Paris… 

Pode ter sido em parte mas não só. As pescas, a agricultura quem mandou dar conta disso tudo? Agora gostam de ver as vaquinhas a rir-se para o pasto? Por Deus vão dar uma volta todos os que estão na Assembleia e no Governo. Se quer um conselho, emigrem todos. Deixe lá a compra da sua vivenda na Quinta das Flores, desista dela, e vá-se embora!
  
Que fique claro que eu não pertenço, nem nunca pertencerei, a qualquer Partido Politico, sou Independente nas minhas ideias, certas ou erradas, mas são minhas! 

Sabe agora qual é a minha aflição? É que eu já não vejo ninguém capaz de endireitar este País porque mais me parece que todos se querem é endireitar a si próprios! Falta-lhes o calo que a vida dá perante as dificuldades, falta-lhes honestidade, falta-lhes humildade, falta-lhes ouvir os cidadãos.  

Sabe, na Assembleia devia haver cidadãos com direito a serem ouvidos. Pesca, 5 pescadores com provas dadas de honestidade, não daqueles que oferecem robalos. Agricultura, 5 agricultores de vários pontos do País e assim sucessivamente. Porquê? Porque esses é que têm os calos nas mãos do trabalho, sabem do que falam, do que precisam, não são Deputados.

E o que tem o Clio Sr. Assis? Eu que ainda achava que tinha alguma honestidade e talvez nos pudesse ajudar a sair desta… Comigo arrumou, o seu assento tem que ser mais bem tratado e nós precisamos de austeridade. Portanto deixou de contar, eventualmente com o meu voto.

Sabe o que eu acho, não deviam andar em coisa nenhuma. Vão trabalhar para a Assembleia, para a Câmara? Vão de transportes públicos, usem os seus carros e quando for preciso representação governamental aluguem!

E todos os carros do Estado que fossem absolutamente necessários aos Serviços deviam estar devidamente identificados porque são todos do Zé Povinho que paga os seus impostos.

Não estão sempre a fazer comparações com os outros Estados Europeus? A Suécia é um exemplo...

E os contratos de leasing também são muito interessantes, não são? Só quem não os conhece é que não sabe como é.

E muito mais haveria para dizer...

É tempo de fazer outro 15 de Setembro, sem violência e com dignidade.

Precisamos de quem nos governe e saiba corresponder aquilo que foi aquele dia que ficará para sempre na minha memória.



PS.: Imagem retirada da Internet                                        

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A história de duas chávenas ou a morte de uma avó…




Eu gostava muito da minha avó. Comigo ela era muito doce, contava histórias e brincava comigo. Foi assim até ficar doente mas desse dia nada está gravado nas minhas memórias.

Antes disso ela ensinou-me a pregar botões nas calças do meu avô. Era uma mulher alta, seca e amarga. A vida tinha-lhe sido muito dura mas isso são coisas para contar noutra altura.

Lembro-me dela como se fosse hoje. Ela esteve doente em casa durante muito tempo, acamada e sem falar.

Não me deixavam ir muitas vezes ao qualquer dela. Na verdade ela estava imóvel, não me respondia e portanto, poupavam-me esses momentos.
Um dia, em Dezembro, eu ainda tinha cinco anos, ouvi a minha mãe dizer para o meu pai que ela me estava a chamar como fazia anteriormente e que seria melhor levar-me lá. Eu ouvi, claramente e por três vezes Nina, ó Nina, Nina… 
 
O meu pai levou-me pela mão, mandou-me beijá-la, o que eu fiz e retirou-me do quarto. Pegou em mim e levou-me para casa do meu avô materno onde eu não era esperada mas sempre bem recebida.

Disseram-me que a avô estava doente mas logo o meu pai me iria buscar. Eu acreditei, ela até tinha chamado por mim! Estaria melhor com certeza pois se há tanto tempo não me chamava!

O avô brincou comigo, um jogo com umas bolinhas que não faço a mínima ideia o que fosse, mostrou-me os coelhos, as galinhas e as flores que a madrasta da minha mãe tinha no quintal.

Lembro-me perfeitamente do jantar, ou parte dele, sopa de caldo verde. Comi em silêncio mas parecia-me que havia um ambiente pesado.

Chegou a hora de ir para a cama e fizeram-me a cama no quarto do avô e aconchegaram-me muito bem. Eu fiquei quentinha, muito sossegada mas atenta.

Ouvi a D. Emília, assim se chamava a madrasta da minha mãe, dizer ao meu avô que a avó já tinha morrido. Ele recomendou cuidado porque eu podia estar acordada. Ela respondeu-lhe que não e continuaram a conversa lamentando a vida difícil e triste da minha avó.

Eu não conseguia adormecer. Meti a cabeça debaixo dos cobertores e chorei baixinho até eles apagarem a luz. Chorei bastante até que finalmente adormeci.

Quando me acordaram disseram-me para ir à casa de banho, fazer a minha higiene porque o meu pai me vinha buscar depois de almoço.

Assim fiz mas estava muito mal disposta. Comecei a sentir vontade de vomitar. Não chamei ninguém e de repente vomitei todo o jantar. Ali estava ele inteirinho! Podia ver o caldo verde ali todo aos bocadinhos! Mas e agora?

Era preciso limpar tudo para ninguém dar por isso.

Fiz o melhor que pude e pelos vistos bem, que ninguém deu por nada! Eu era só uma garotinha cheia de desgosto e a um mês  exacto de fazer 6 anos.

Quando o meu pai me veio buscar disseram-lhe que eu tinha comido e dormido bem…

Fizemos o caminho para casa quase em silêncio e acho que o meu pai apenas me perguntou se eu tinha gostado de estar com o avô.

Naquele tempo as pessoas eram veladas em casa. Cheguei à sala de jantar e pareceu-me tudo muito escuro. A mesa ao meio da sala estava aberta e havia muitas cadeiras à volta.

Levaram-me ao quarto da avó e aí perante a cama vazia disseram-me que a avó tinha partido para o Céu mas tinha deixado umas coisas para mim.

É preciso esclarecer aqui que a avó tinha viajado bastante para a época e que tinha duas chávenas de café, que eu vá-se lá saber porquê, adorava. Tinham em mim um fascínio delirante. Também tinha uma outra coisa feita de fita de seda entrançada que diziam era para guardar os lenços de assoar.

Então disseram-me que uma daquelas chávenas era para mim para eu guardar e ter muito cuidado em não partir. A peça de fita de seda seria para eu guardar os meus lenços.

Não chorei, que me lembre. Estava triste mas ao mesmo tempo feliz por a avó me ter mandado dar a chávena. Pensava eu, claro! Certo ou errado nunca o saberei…

Passaram-se alguns dias, eu continuava triste, a sala já estava arrumada, houve umas mudanças de sítios de algumas coisas até que o irmão do meu pai me chamou.

Ele era muito meu amigo e sendo um pouco mais novo que o meu pai era quem mais brincava comigo.

Inesperadamente disse-me: Vou dar-te a outra chávena da avó mas tu prometes que não as partes e és uma boa menina quando fores para a escola.

Eu cumpri a promessa. As chávenas continuam intactas.

Fui uma boa aluna mas às vezes detenho-me a pensar como é que uma miúda de 5 anos reagiu assim e nunca contou nada a ninguém…

Já se passaram mais de 55 anos sobre a história… 
 
 



quinta-feira, 12 de julho de 2012

A história de um crime





Hoje deu-me para as recordações. Recordações dos tempos em que imaginava o Mundo em tons de rosa, ignorando que as pessoas nem sempre são o que parecem.
Mas já dizia a minha avó que estamos sempre a aprender.
Aos 10 anos tinha decidido o rumo da minha vida tinha continuado a brincar com bonecas que ainda hoje adoro.
Quando acabei o curso aos 18 anos ofereceram-me na Escola um trabalho mas o meu Pai não me deixou aceitar. Queria que eu tivesse um período de descanso (meu querido Pai), o ordenado era, para a época, irrecusável mas nada o demoveu.
Arranjei trabalho uns meses mais tarde, acabava de fazer 19 anos.
Lá ia eu de eléctrico todos os dias para o escritório, sentindo-me segura, já crescida e com responsabilidades. Verdade seja dita que desde o início os patrões confiaram inteiramente em mim. Em dia de pagamentos de vencimentos lá ia eu ao Banco buscar dinheiro vivo para pagar ao pessoal. Às vezes a mala mal fechava. Obviamente que isto era impensável nos dias de hoje, quer pela evolução do modo de trabalhar, quer pelo perigo que isso representaria. Já naquele tempo a minha mãe me recomendava. vê lá tem cuidado, tanto dinheiro, vê lá se te assaltam!
A Empresa vendia material para fecho de embalagens e começou a crescer. Tornou-se necessário arranjar um empregado de armazém que fizesse as cargas e descargas. Naquela altura não havia cunhas, punham-se anúncios e escolhia-se ficando-se à experiência. Umas vezes dava certo, outras não.
A partir daqui tenho que vos dizer que a história e todos os acontecimentos por mim narrados são verdadeiros apenas os nomes são fictícios, por razões óbvias.
O rapaz admitido era um jovem magro mas com grande força, sempre a brincar, sempre a rir, a contar anedotas. O Rui dava conta do serviço no armazém na perfeição. Tudo ficava arrumado em condições e estava sempre pronto para fazer um recado ir comprar qualquer coisa que fosse preciso mesmo que fosse a nível pessoal.
O Rui tinha uma namorada nas Caldas da Rainha onde ele ia regularmente passar o fim-de-semana. Os pais do Rui estavam emigrados e ele vivia com uma avó com quem parecia ter uma boa relação.
Não me lembro como, mas a Ana namorada do Rui, começou a escrever-me e assim fomos mantendo uma amizade. Eu dizia-lhe que ele era um grande brincalhão mas bom rapaz e que os patrões gostavam dele.
Ele era realmente assim e estava sempre na brincadeira com as moças, incluindo comigo, mas nunca sendo incorrecto. Eu dizia-lhe que ou ele se portava bem ou contava tudo à Ana. Ele ria, dizia mais uma graça e assim foi correndo o tempo.
Oportunamente teve o seu aumento de vencimento, aliás merecido, ficou feliz, trabalhava imenso até ter tudo arrumado embora eu por vezes o mandasse parar um bocado para descansar.
Um dia percebi que já não ia às Caldas da Rainha todas as semanas e acabei por perceber que ele se andava a divertir pela zona do Cais do Sodré e que andava namoriscando uma outra rapariga, a Luísa.
Não disse nada à Ana mas fiz-lhe mil e uma recomendações sobre um lugar muito pouco recomendável na época. Ele dizia-me que não havia perigo porque era da Ana de quem ele gostava e sabia defender-se das más companhias. Confiei nas palavras dele.
O tempo foi passando assim sem alteração que algum de nós desse conta.
Um dia de manhã disse-me que se ia embora, e que se ia despedir. Pensei que fosse emigrar para junto dos pais mas ele disse apenas que não, que tinha em vista uns negócios...
Falou com os patrões que o tentaram demover oferecendo-lhe inclusivamente um novo aumento na dedução que iria trabalhar para outro lado. Foi inútil a insistência.
Ainda tentaram ver se eu sabia algo sobre o assunto mas acabaram por ter que aceitar que eu também não sabia nada.
E assim o Rui se foi embora.
A Ana ainda escreveu algumas vezes mas repentinamente parou. Insisti, perguntei o que tinha acontecido, se estava doente e nada de resposta. Acabei por desistir também pensando que tinham acabado o namoro e ela não queria mais falar no assunto.
Uns anos mais tarde eu estava de férias no Algarve em pleno Verão. Subia a rua lentamente e passei pela loja das revistas e jornais. Dei um relance sem parar o meu caminho e de repente paro, fico a pensar e volto atrás.
O meu marido perguntou-me: O que foi? A cabeça só me dizia não, não pode ser, não pode mesmo…
Não consegui responder à pergunta, peguei no dinheiro e fui comprar o Diário de Noticias.
Olhava e não queria acreditar só queria chegar a casa e ler a notícia toda. Ver os nomes, que as alcunhas já eu as tinha visto, e era demasiada coincidência. A foto na primeira página não tinha grande qualidade e tinham-se passado uns anos.
Tristemente era verdade. O Rui estava a ser julgado com a sua companheira Luísa com quem havia feito um pacto de sangue e juras de amor eterno pelo assassínio de um motorista de táxi. Produto do roubo trezentos e tal escudos.
Rui e Luísa viviam grandes ilusões, cenas de ciúme e de novelas, em quartos alugados e passeios da prostituição entre o Bairro Alto e o Cais do Sodré fazendo roubos em transportes nas horas de ponta.
Não só, ele roubou armas do Arsenal, e como o motorista não morreu de imediato ainda teve a “bondade” de disparar mais uns quantos tiros para acabar o “trabalho”, demonstrando uma enorme frieza.
As férias não voltaram a ser as mesmas, na minha cabeça só havia uma pergunta como era possível aquele rapaz ter entrado naquela vida, ter seguido aquele rumo?
Durante muito tempo guardei o recorte do jornal. Condenado à pena máxima de 28 anos de prisão por cúmulo de actos vários. Ela porque era menor à altura dos acontecimentos teve também a pena máxima que se lhe podia aplicar por cumplicidade.
Já não guardo o recorte do jornal mas guardo a foto da Ana. Guardo na minha cabeça a interrogação, o porquê ainda sem resposta.
Tudo isto aconteceu em 1974 e deu mais tarde lugar a um filme cujo nome eram as duas alcunhas.
Um dia deitei-me às 2 horas da madrugada porque passava o filme na Televisão e eu queria entender, ver se dali eu tirava alguma explicação.
Ainda hoje não percebo. Não sei o que lhes aconteceu depois da pena cumprida.
Também não sei porque me lembrei de vos contar esta história agora.


Nota: Foto retirada da Internet