Os sótãos são sempre um lugar
mágico. Com mais pó, menos pó ou teias de aranha nada lhes tira a magia!
Quem não tem uma moradia e mora
num apartamento acaba quase sempre por ter uma arrecadação que aos poucos é
igualzinha aos sótãos!
Eu também tenho uma. Passo anos
sem lá ir, até que começo a sentir uma enorme vontade de ir lá descobrir as
velharias e pôr ordem naquilo tudo. Arranjo uns sacos de plástico preto e
começo a despachar. Claro que se as coisas estão lá há anos é porque não me
fazem falta nenhuma e não são mais que lixo.
No lixo descobri, desta vez,
coisas da década de 60. Cartas, cartas cor- de- rosa que são sempre tolas.
Naquela altura era uso e costume
as raparigas e os rapazes corresponderem-se com jovens de outras nacionalidades
o que, de certo modo, contribuía para o desenvolvimento das línguas
estrangeiras e conhecimento de outras mentalidades e formas de vida.
Eu, não podia ser excepção. Já
não me lembro bem quantos correspondentes de ambos os sexos tive mas franceses
e brasileiros seguramente. Desses pelo menos lembro-me.
E lembro-me de um em particular,
brasileiro que no dia 16 de Julho, faria ou faz, 73 anos e chamava-se Fernando
Dantas Cortês.
Claro que reli todas as cartas, o rapaz era
engenheiro, construía estradas ao longo do Brasil e mandava-me histórias de
todas as regiões, postais e fotos.
Nove anos de diferença é qualquer
coisa naquela idade em que eu ainda completava os meus estudos. As cartas
deliciavam-me, mais ainda porque eram elogiadas e começaram a falar de amor.
Claro que, antes disso muito se
falou de Amizade. O que era, como devia ser, como nos dava desilusões de vez em
quando.
Ao reler aquilo lembrei-me como
ainda hoje a Amizade nos prega umas boas desilusões embora se tenham passado
mais de quarenta anos. Inevitavelmente nem a idade nos poupa a essas coisas.
Note-se bem que as cartas se
mantiveram por anos. A ascendência longínqua do sujeito era Portuguesa. Um
ascendente longínquo tinha ido de Portugal para o Nordeste Brasileiro e aí
formou família ficando o local a ser conhecido por Carnaúba dos Dantas, que
ainda hoje existe e já não é apenas um localzinho perdido no Nordeste Brasileiro.
Jovens, como eu naquela altura,
eram ainda pessoas com a personalidade em crescimento, se bem que nada seja
comparável aos dias de hoje, em que comparativamente não passam de crianças
brincando com playstations.
Não sei que lhe disse que ele um belo dia
zangou-se comigo a sério e disse que nunca mais me escrevia. Se melhor o disse,
melhor o fez, e as minhas cartas seguintes vieram pura e simplesmente
devolvidas.
Estivesse eu na era dos
computadores, teria certamente cópia do que tinha escrito e hoje, maduramente,
poderia entender porque tal aconteceu. Assim fiquei sempre com a dúvida e sem a
explicação. É que esta coisa de língua portuguesa e língua brasileira não é bem
a mesma coisa e por isso se cometem lapsos sem saber o porquê.
Ainda hoje eu gostava de entender
o que se passou e o caso me vem à ideia. E que gostava de saber o que foi a sua
vida, ai isso eu também gostava!
Como já disse, reli as cartas
todas, achei graça a alguns factos, e encontrei um poema que entendi não
destruir e transpô-lo por aqui.
Afinal, ele foi uma pessoa que contribuiu para
a minha formação e crescimento como pessoa e eu não me esqueci dele, o que
significa que pelo menos eu tinha ali um Amigo e os Amigos não se separam nunca.
Nem a distância, nem o Universo se for o caso.
As duas sombras
Na encruzilhada
silenciosa do Destino,
Quando as estrelas se multiplicam,
Duas sombras errantes se encontram .
A primeira falou : - Nasci de um beijo.
De luz, sou força, vida, alma, esplendor.
Toda a ânsia do Universo...Eu sou o Amor.
O mundo sinto exâmine a meus pés...
Sou Delírio...Loucura...E tu, quem és?
Eu nasci de uma lágrima. Sou flama.
Do teu incêndio que devora...
Vivo, dos olhos tristes de quem ama,
Para os olhos nevoentos de quem chora.
Dizem que ao mundo vim para ser boa.
Para dar do meu sangue a quem queira.
Sou a saudade, a tua companheira
Que punge, que consola e que perdoa...
Na encruzilhada silenciosa do Destino
As duas sombras se abraçaram.
E desde então, nunca mais se
separaram.
Quando as estrelas se multiplicam,
Duas sombras errantes se encontram .
A primeira falou : - Nasci de um beijo.
De luz, sou força, vida, alma, esplendor.
Toda a ânsia do Universo...Eu sou o Amor.
O mundo sinto exâmine a meus pés...
Sou Delírio...Loucura...E tu, quem és?
Eu nasci de uma lágrima. Sou flama.
Do teu incêndio que devora...
Vivo, dos olhos tristes de quem ama,
Para os olhos nevoentos de quem chora.
Dizem que ao mundo vim para ser boa.
Para dar do meu sangue a quem queira.
Sou a saudade, a tua companheira
Que punge, que consola e que perdoa...
Na encruzilhada silenciosa do Destino
As duas sombras se abraçaram.
E desde então, nunca mais se
separaram.
Poema de Olegário Mariano
1 comentário:
Vive-se no presente, para o Futuro, mas é bom, recordar o passado,faço-o muitas vezes,até porque tenho o hábito de escrever sobre o que me/nos vai acontecendo, e tenho recortes da imprensa.
Nestas idas descobri o que Egas Moniz dizia dos jovens da orpheu- loucos de manicómio, ao que Fernando Pessoa respondia -Egas Moniz é o conselheiro Acácio da neurologia Nacional -e talvez fosse e talvez devesse perder o prémio Nobel. O que terá feito a Raul Proença?
coisas...
abraço
asilva
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