domingo, 9 de junho de 2013

Tanta dor, tanta amargura...





 

Tanta dor, tanta amargura,
A sulcar faces tão belas 
E tanta água que é pura 
A lavar sujas vielas.
(Armando Goes)


 
Encontro marcado às 14:30h 6 de Junho na Praça de Londres.

Foi agradável conhecer os Colegas de luta de outros pontos do País. Senti a força que unia todos e por mais estranho que pareça, eram como Amigos de longa data. Cheguei a pensar que alguns eram ainda mais Amigos que outros que tenho mais antigos…

Descobri que a força da luta nos torna fortes, unidos nos mesmos objectivos, desligados de ninharias e factos fúteis. Eu sabia isso, mas ali tudo se revestia de uma intensidade muito maior.

Enquanto se gritavam palavras de ordem que se ouviam no 17º andar do Ministério da Solidariedade e Segurança Social (?) eu pensava na minha vida.

Foi sempre uma vida feita de lutas, de persistência, de querer saber, saber estar, de teimar até alcançar o objectivo, de ensinar aos mais jovens o meu saber, ajudá-los a crescer, enxugar algumas vezes as suas lágrimas pelos reveses das suas vidas.

E lutei para fazer do meu filho um Homem, luta que se tornou mais difícil quando o meu marido ficou desempregado pela falência da Empresa. Uma reforma forçada por ser velho para trabalhar, novo para se reformar o que implicou penalização.

Mesmo assim nunca dei um passo maior que a perna. A minha casa está paga, o carro também, o filho licenciou-se numa boa Universidade privada, faz actualmente uma especialização.

Mesmo no fim da minha vida de 44 anos de trabalho, tive uma luta com a minha entidade patronal, para que me fosse feita justiça, para não perder o que já alcançara. Ganhei a luta, perdi saúde.

Pensei na minha mãe que, com pouco mais de 600 euros de pensão de sobrevivência, vai ter que pagar quase 250 de IRS. Pensei no orgulho dela, cuja vida foi muito mais difícil que a minha porque aos 8 anos ficou sem mãe e três irmãs mais novas para cuidar. Orgulho que não permite que eu lhe pague a máquina de lavar que lhe comprei para substituir a que se avariou. Não nos quer sobrecarregar nem a mim nem ao meu irmão.

E enquanto as palavras de ordem, os cantos se repetiam, a cabeça continuava a pensar. Deixei as minhas lutas e comecei a pensar em todos aqueles que estão piores que eu. Há sempre alguém pior que nós.

Pensei em quem ainda tem menos e nas crianças com fome que desfalecem na escola. Pensei que quando vou a Lisboa de comboio há pessoas a viver debaixo das pontes…

Que Mundo é este meu Deus que deixa crianças com fome? E pensei nas mães dessas crianças e achei que eu seria capaz de roubar para dar de comer ao meu filho.

Que sentiria vergonha ter que ir a uma instituição pedir comida, roupas… Pensei mesmo que não iria… E lembrei-me dos suicídios que estão sempre a acontecer mas que os jornais nem referem.

Pensei no desespero que algumas famílias estão a passar e as leva ao suicídio colectivo.

E aí chegou a raiva. A raiva por saber todo o sofrimento de quem vê os seus filhos partir para bem longe na procura de algo melhor. Afastei o pensamento porque não consigo imaginar a dor.

Mas a raiva aumentava e eu, que quando choro o faço sozinha, não me contive e chorei lágrimas de ódio por tudo o que nos estão a fazer, sem pensar que o fazia à frente de centenas de pessoas. Estão a destruir o meu Portugal, a matar os idosos de dor, solidão e doença enquanto os verdadeiros responsáveis estão ao Sol, perfeitamente em Paz com a sua suja consciência.

Disfarçam a sua incompetência com a chuva e curvam a coluna perante a Alemanha e a Troika vendendo aos bocados o País onde nasci lindo de cima abaixo, com pessoas excepcionais que mandam sair do seu conforto.

E a raiva cresceu tanto como a certeza de que estou do lado da razão que as lágrimas caíram cheias de revolta mas com uma força e pronta para uma luta que eu nunca julguei ser capaz de fazer!


3 comentários:

calhabécirculação disse...

A razão, a moral e o direito, hão-de prevalecer.
Um beijinho para ti, Maria Virgínia.
Pedro Martins

Maria Miranda disse...

...sabes, Virginia, o que me assusta? não há, vísivel,gente que estruture algum discurso ético, alguém que nos retirasse de um péssimismo que encharca a alma e os ossos. Estou à espera de saber se as grandes crises morais criam sentimentos do tipo "quem não se safa é parvo" ou o aparecimento de um novo discurso que galvanise o que de bom tem o homem. Será ainda vestígios do nosso sebastianismo! Mas tanto queria, ainda, ouvir uma outra voz...aí, talvez chorasse.
Um bj amigo.

Maria Virgínia Machado disse...

Sabes Maria? Tens razão! E o que te assusta também me assusta porque não vejo uma saída para tudo o que vai acontecendo... e como eu queria ver! Tanto como tu. Um beijo!